quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Endereço e Texto de Andre lemos

http://leonardoleao.googlepages.com/Ciber-rebeldes-AndrLemos.pdf

Segue a Transcrição do Texto
CIBER-REBELDESAndré L.M. LemosTodas as tecnologias criam novos rebeldes. Os "luddites" ingleses, que no começo da revolução industrialdo século XVIII quebraram as màquinas com medo de serem substituìdos por elas, foram os primeiros"tecno-rebeldes". Desde então muita coisa mudou. O cinema popularizou os "rebeldes sem causa" dageração "baby-boom". Hoje, novos rebeldes utilizam as tecnologias micro-eletrônicas. Se a revoluçãoindustrial viu a emergência dos luddites, a cibercultura vai ver a dos rebeldes do "fronte" cibernético: os"ciber-rebeldes". As figuras mais importantes são os "phreakers", os "hackers", os "crackers", os"cypherpunks", os "ravers" e os "zippies". São esses os novos "cowboys" da fronteira eletrônica.Os Phreakers.Os phreakers são conhecidos como os piratas do telefone. A palavra "phreak" é um neologismo entre"freak, phone, free". A ação dos phreakers começa nos anos 60, a partir da apropriação do sistema detelecomunicação mundial tendo como objetivo viajar gratuitamente pelas redes. Eles organizavam asfamosas "party lines", festas em linha com vàrias pessoas de locais os mais diversos. Jon Engressia éconsiderado o pai dos phreakers. Cego de nascença, ele queira encontrar outros cegos pelas linhasmundiais de telefonia. Um outro phreaker, John Draper, descobriu por acaso numa caixa de cereais, umapito que produzia a freqüência de 2600 hz, tonalidade essa que permitia realizar chamadas internacionaisgratuitas. A partir disso Draper ficou conhecido como Captain Crunch (o nome do cereal). A descoberta deDraper incita outros phreakers a produzirem equipamentos clandestinos (as "blue boxes") que reproduziamos 2600 ciclos e assim permitiam a viagem gratuita pelas redes de telefonia mundial. Hoje o "phreaking" éatualizado com a pirataria de telefones celulares, esses, pelo tipo de funcionamento, mais pròximos de umcomputador que de um telefone. A fronteira entre os phreakers e os hackers desaparece.Os Hackers.Se os telefones criaram os phreakers, os computadores vão criar os hackers. O personagem Edu da novela"Explode Coração" é um exemplo. Ele incarna bem o arquétipo do hacker: um jovem, singelo, tìmido eingênuo que penetra sistemas de informação, sem mexer nos dados alheios. Isso nos dà a imagem doromantismo dos primeiros hackers. Os hackers formam a elite da informàtica. Num primeiro momento, elespretendem liberar as informações e os computadores do poder militar, industrial e universitàrio e vão ser osverdadeiros responsàveis pelo nascimento da micro-informàtica, nos anos 70, na Califòrnia. A microinformàticafoi, por si sò, uma espécie de rebelião contra o peso da primeira informàtica (grandescomputadores ligados a balìstica militar). Os hackers atualizam, com as redes de computadores, a ação dosphreakers, a saber, viagens por novos territòrios simbòlicos, o ciberespaço. Para eles todas as informaçõesdevem ser livres, as redes devem ser livres e democràticas e os computadores acessìveis a todos eutilizados como uma ferramenta de sobrevivência na sociedade pòs-industrial. Os primeiros hackersvisavam demonstrar a falibilidade das redes, daì vem a invasão à sistemas de computadores. A mensagemé simples: "se te dizem que tudo é seguro, que não hà possibilidades de falhas, desconfiem, pois éprovavelmente um engodo". Os hackers alemães do Chaos Computer Club de Hamburgo por exemplo,penetraram o sistema da caixa econômica local, retiraram em poucas horas milhares de marcos e, no diaseguinte, foram à agência devolver e mostrar as falhas do sistema. Por isso os hackers tornaram-seconhecidos como os "Robin Wood" da cibercultura. O que importa aqui é vermos que, pela tecnologia, oshackers denunciam a pròpria racionalidade tecnològica e o poder constituìdo por grandes empresas einstituições governamentais. Entretanto nem tudo são boas intenções (mostra as falhas, democratizar ainformação): surgem os crackers.Os Crackers.Os crackers são os verdadeiros "cyberpunks", ou punks da cibernética. Eles são a versão negra doshackers. Aqui a atitude punk penetra no reino asséptico da tecnologia. Os crackers pirateiam programas,penetram sistemas com o intuito de quebrar tudo (dai o nome "cracker"), inserem poderosos e destrutivosvìrus de computador. A idéia é romper com a sociedade asséptica da informàtica e sabotar ao màximo osgrandes sistemas de computadores. Nesse sentido os crackers são o pesadelo da modernidadetecnològica. O fenômeno é planetàrio. Em abril de 1994 um cracker brasileiro penetrou vàrios sistemas(provavelmente à partir da Unicamp) destruindo vàrios dados. Ele deixou a seguinte mensagem: "estou devolta para semear o terror na Internet. Vocês não sabem o que é segurança de um sistema". Com hackerset crackers as redes parecem vulneràveis. Pela proteção individual no ciberespaço, aparecem assim ospunks da criptografia ou cypherpunks.Os Cypherpunks.Os cypherpunks (de cyberpunks e criptografia - "cypher") são tecno-anarquistas que lutam pela manutençãoda privacidade no ciberespaço através da difusão de programas de criptografia de massa (proibidos,entretanto, em vàrios paìses). Eles buscam garantir a liberdade individual e a proteção da privacidadedentro das redes de computadores. Assim, esses ciber-rebeldes se organizam contra todas as tentativasgovernamentais ou empresariais de re-traçar nossas vidas a partir das pistas que deixamos quandoutilizamos qualquer sistema eletrônico, como cartões de crédito, banco eletrônico ou redes decomputadores. O programa PGP ("pretty good privacy") criado por P. Zimmermann, os "remailers" e outrossistemas anônimos, são as armas fundamentais dos cypherpunks. Toda a mìstica da cabala e dopensamento hermético encontra ressonância com a criptografia de dados eletrônicos. Dentro desse mesmoespìrito esotérico se organizam os tecno-pagãos: os ravers e os zippies.Os Ravers e Zippies.Herdeiros diretos da contracultura dos anos 70, os ravers e zippies utilizam o que os seus primos hippiesdeixaram de lado como o inimigo: a tecnologia. Para esses neo-hippies dos anos 90, a tecnologia é, e deveser, um parceiro para atingir os valores da era de Aquàrio. Assim os computadores e as redes, comoInternet por exemplo, são vetores de fortalecimento comunitàrio (as comunidades virtuais), de uma gnoseou pensamento màgico (a manipulação mìstica de dados), de uma estética (imagens de sìntese, realidadevirtual, hologramas), da festa e do prazer corporal (a dança, o sexo, as drogas, a mùsica). Os ravers (doinglês "to rave"), simbolizam talvez a mais bela sìntese da cibercultura: através da mùsica "tecno" misturadaao hedonismo do corpo e do espìrito pela dança, o primitivo e o tecnològico interagem de forma simbiòtica.Eles se reùnem em mega-festas (as raves) com o intuito de dançar horas a fio. Assim, mùsica tribal(repetitiva, percussiva), drogas do amor (o êxtase) e todo um aparato de telefones celulares e de redes decomputadores para escapar do controle policial (as raves são proibidas em vàrios paìses da Europa) nosmostra como as novas tecnologias se aproximam, pelo uso, a arquétipos ancestrais dos ritos. O movimentorave é assim ao mesmo tempo cultural, social e polìtico. O fenômeno dos zippies é tipicamente inglês (inìciode 1987) mas vem criando aderentes em vàrias partes do mundo. Eles misturam o sentimento comunitàriodos hippies com as novas possibilidades das tecnologias do ciberespaço. O movimento foi criado por FraseClark com o intuito de utilizar o potencial das novas tecnologias para reforçar laços comunitàrios. Zippiesignifica "Zen Inspired Pagan Professionals" e são herdeiros dos "travellers" (hippies nômades) e da cena"house" que cria, por sua vez, o movimento "tecno" ou "ciber". Os tecnopagãos, como os ravers e zippies,são uma mistura de vàrios movimentos como a cena "squatt" inglesa, os fanzines, os covers designs, oshackers, o ciberespaço, a mùsica eletrônica.Ciber-Rebeldes?Esses rebeldes da cibercultura nos mostram como a "rua", na sua dimensão quotidiana, encontra formas dedescarregar todo o seu vitalismo (para o melhor ou o pior) a partir da utilização das tecnologias microeletrônicas.A tecnologia que sempre foi vista como um fator de separação, de homogeneização e deracionalização se vê investida pelas forças (simbòlicas, imaginàrias, sòcio-culturais) inibidas durante doisséculos de modernidade industrial. A mensagem é simples: se um retorno a uma época pré-tecnològica éimpossìvel, o melhor a fazer é tomar as tecnologias nas mãos. No entanto, se o futuro não existe mais e seas ideologias se esgotaram, não existe mais uma rebelião possìvel mas rebeliões efêmeras, estéticas elùdicas, presas ao "aqui e agora". Assim, os ciber-rebeldes não podem buscar "A" revolução, masrevoluções pontuais. A esquiva, o descaso e a maleabilidade é aqui mais importante que um ataque frontal.Como disse muito bem um zippie inglês: "ao invés de brigar contra o sistema, nòs o estamos ignorando. Eessa é a ultima revolução". Afinal se não existem mais ideologias, certezas ou esperanças, contra quem, ecom que objetivo, poderia haver uma revolução?Referência:LEMOS, A. L. M. Ciber-rebeldes. Jornal A Tarde, 08 mai. 1996. Disponível em:<http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/lemos/rebelde.html>. Acesso em: 14 jan. 2008.

Bom Estudo.
Prof. Leonardo

Um comentário:

Lucas Franco disse...

O que muitos 'cowboys do ciber espaço' querem é manter as coisas da forma que estão, pois assim continuarão sobre os holofotes de todos. Criar um perfil ajuda na fácil identificação de cada grupo, criando uma marca e fazendo com que este seja reconhecido mais fácil. Assim como existem grupos questionadores da ordem, existem grupos acomodados a atual realidade, que buscam mais por vaidade a notoriedade do que uma melhora em um âmbito coletivo.

Lucas Franco e Camila Valladares